Documentário Central: Um Tapa na Cara!
17 de outubro de 2016
Texto de Francis Ivanovich originalmente publicado no site Conexão Jornalismo.
No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) foi exibido o documentário Central, dentro da programação do Festival do Rio 2016. O filme que percorre as galerias do Presídio Central de Porto Alegre, é dirigido por Tatiana Sager e Renato Dornelles, autor do Livro Falange Gaúcha que conta a história do crime organizado no Rio Grande do Sul, cujos os direitos foram comprados por Tatiana Sager e serviu como fonte inicial para criação do longa documentário Central.
O filme trata sem retoques o absurdo kafkaniano que transformou-se essa prisão, e que talvez nem Dostoiévski teria imaginado, que foi considerada a pior do país pela CPI do Sistema Carcerário, da Câmara dos Deputados, em 2008, e denunciada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em 2013, por violações aos direitos humanos.
Central é um corajoso trabalho feito pelos realizadores que também são jornalistas. O documentário tem o formato de uma grande reportagem, mas que possui um ingrediente que o torna muito especial: a câmera na mão de alguns presos que captam com seus próprios olhares o dia-a-dia degradante desse sistema prisional.
Após difícil negociação com as lideranças dos presos, os realizadores obtiveram o consentimento para que eles captassem imagens e depoimentos pelos diversos ambientes do presídio, dos quais nem os guardas têm acesso, o que considero um feito magnifico.
Essa iniciativa dos realizadores nos remete a um pensamento de um dos mestres do gênero documentário, Eduardo Coutinho: “A ideia de que o cinema é imagem e ação é uma das mitologias do cinema. Cinema é imagem e som. As pessoas falam em todos os filmes, a diferença é que nos meus a palavra está encarnada, corporificada.”
Em Central, os realizadores foram além disso, deram espaço à alma desses seres humanos que são fruto de um sistema que apodreceu e se recusa a reconhecer sua grave enfermidade, correndo o risco de por em causa o futuro do próprio país.
Quando a câmera não está nas mãos dos prisioneiros, num olhar subjetivo tão rico e, por incrível que pareça, até poético, do interior das galerias, os realizadores entrevistam policiais militares, familiares e presos que revelam o cotidiano do Central com sua superlotação.
O filme nos leva a refletir que cada galeria do Central pode ser comparada ao que ocorre nas unidades da Federação, onde imperam a injustiça, a corrupção, o desrespeito à Constituição e à pessoa humana, e escancaram a total falta de sensibilidade do Estado que está a fabricar em cada comunidade abandonada as condições ideais para que novos presos sejam fabricados, presos esses que se tornarão soldados de um exército que cresce assustadoramente e que pode vir a ser, esperemos que não, o monstro que devore o próprio Estado e consequentemente a própria sociedade.
É o próprio Estado quem está a fortalecer e ampliar os meios para que as garras do crime organizado se espalhem pelos diversos segmentos da sociedade. As eleições de 2016 são um sério alerta, pela primeira vez, foi claramente perceptível a interferência do crime em determinadas campanhas à eleições municipais no estado do Rio de Janeiro, por exemplo.
O documentário Central presta um importante serviço à sociedade e assisti-lo deveria ser tarefa obrigatória também das autoridades que têm responsabilidade direta sobre o sistema carcerário brasileiro. É incrível, mas muitos desses profissionais que lidam com a questão, jamais colocaram os pés dentro de um presídio.
O Documentário Central é o ponto de partida para uma série com 13 episódios chamada Retratos do Cárcere, também dirigida por Tatiana Sager e Renato Dorneles. Ele acabam de ser contemplados com o edital Brasil de Todas as Telas. A série vai retratar as deficiências do sistema penitenciário brasileiro e seus reflexos na criminalidade organizada e na sociedade.
Sem dúvida, será uma série importante e material para que se repense e se construa um novo caminho para essa questão tão grave que ameaça de maneira evidente a Democracia e a liberdade de todos nós.
Central é um tapa na cara!
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